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A Quinta dos Animais, de George Orwell (parte 3)

25/10/2015



RECESSO: 
O hvr entrará numa pausa por tempo indeterminado.


*O texto tem spoilers.
*A parte 1 do texto pode ser lida aqui.
*E a parte 2 aqui.

"Todos os animais são iguais, mas alguns animais são mais iguais que outros."
Imagem daqui.
O prefácio

Orwell escreveu um prefácio para A Quinta dos Animais, que só foi descoberto anos depois e nele descreve que não foi fácil publicar o livro: uma espécie de auto-censura impedia os editores de publicarem textos contra a URSS, mesmo sendo verdadeiros – uma das razões está no facto de a URSS fazer parte dos Aliados contra a Alemanha nazi, a outra está no facto de a opinião pública inglesa da época ser russófila.

Foi um editor que era anti-russo que lhe publicou o livro. A pretexto dessa censura não oficial que sofreu (não havia nenhuma lei que impedisse de escrever sobre a URSS), Orwell escreveu um belíssimo ensaio sobre a liberdade de imprensa, onde afirma que, não havendo censura oficial, uma pessoa é livre de escrever o que lhe parece ser verdade, desde que esses escritos não prejudiquem a comunidade, o bem público.

Pelos vistos, em Portugal o livro não teve dificuldade em ser editado. Em 1946, no ano seguinte à sua edição, o livro é publicado em Portugal, com o título O Porco Triunfante. O título diz mais da política portuguesa, sendo menos uma má tradução: o regime de Salazar era anti-comunista, pelo que este livro e a respectiva tradução do título assentam perfeitamente na sua ideologia (porco ainda hoje é um insulto). A tradução portuguesa do título (que, a partir de 1976, mudou para O Triunfo dos Porcos, apenas para manter a tradição) não difere da história, já que são os porcos que passam a governar a quinta – não é a tradução mais correcta, mas é a mais sonante.

Conclusão

Acredito que Orwell está para o século XX como Voltaire está para o século XVIII, não só em termos de qualidade literária, como na sátira e na observação política e social. Voltaire tinha o objectivo de mudar a sociedade e tentava isso através das suas obras, expondo e ridicularizando o que achava incorrecto. Parece-me que Orwell tentava, talvez não mudar, mas alertar, fazendo os leitores terem consciência do mundo em que vivem – sendo esse o objectivo de A Quinta dos Animais.

A Quinta dos Animais é uma sátira à URSS, mas pode estender-se para qualquer regime despótico que se tenha formado a partir de uma revolução. A principal lição desta história (e da História como ciência) é que substituir um extremo por outro não é uma boa ideia – a sabedoria popular diz que é no meio que está a virtude, e talvez seja um conselho sábio no que toca à política.
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